Se existe outra característica que identifica o ser humano entre todos os seres da criação além do fato de ele ser o único criado à imagem e semelhança do Criador, é o fato de ele viver abandonando tudo aquilo que, de alguma maneira, para mais ou para menos, lhe causa desconforto.
Enfim, nós temos o dom de abandonar, e nessa onda frequentemente abandonamos Jesus. Era nisso que o diabo apostava. Mas ele não contava com um detalhe que, provavelmente, lhe passou desapercebido quando este ainda era um querubim ungido e vivia lá no Céu com Deus (Isaías 14.12-13; Ezequiel 28.12-19; Apocalipse 12.7-9): Os discípulos de Jesus, após Sua morte e ressurreição, compreenderam isso. E a partir de então, se tornaram o mais sábio, mais forte e mais ousado corpo de obreiros que a Igreja do SENHOR já teve. Creio que com esse exemplo de íntima confiança em Jesus, eu já poderia concluir essa mensagem, mas ainda quero dizer algo:
Nós abandonamos estudos e também abandonamos amizades. Abandonamos empregos e também filmes pela metade. Abandonamos casas e abandonamos pessoas teimosas. Abandonamos cargos na Igreja e crianças nas latas de lixo. Abandonamos terrenos vazios e abandonamos a fé. Abandonamos cães e gatos nas ruas e abandonamos namorados e cônjuges até pelos motivos mais banais. Nós abandonamos velhos nos asilos e compras nos balcões dos supermercados. Nós abandonamos nossos sonhos e também regras e doutrinas.
A nossa paciência costuma ser curta. A nossa capacidade não costuma suportar muito. E tão logo o SENHOR pareça Se demorar ou pareça colocar sobre nossos ombros fardos que aparentam pesar mais do que achávamos ser o ideal, simplesmente nós abandonamos Jesus. Pulamos fora do barco. Açoitamos a cruz aos Seus pés e dizemos: "Chega! O SENHOR não tem pena de mim, mas eu tenho! O SENHOR não está vendo isso? Eu estou e já estou cansado de tudo. Basta!"
O inimigo das nossas almas é que bate palmas e dá gargalhadas quando vê o ser humano agindo assim. Ele sabe que o segredo de ter êxito espiritual e, consequentemente, ter êxito em tudo o que fizermos, é permanecermos com Jesus em qualquer circunstância e confiarmos na Sua direção para nossas vidas.
"(...) Então, todos os discípulos O abandonaram e fugiram." (Mateus 26.56)
Quando os discípulos abandonaram Jesus no momento da Sua prisão, o diabo certamente se alegrou muito porque viu pessoas medrosas se escondendo e, aparentemente, encerrando a qualquer possibilidade de Deus dar continuidade à expansão do Evangelho sobre a terra. A lógica era óbvia: se aqueles que andaram com Jesus e presenciaram tantos milagres dEle estavam agora se escondendo com medo, quem mais poderia enfrentar impérios, guardas fortemente armados e mal-intencionados, calabouços, torturas, leões em arenas?
Quem mais ousaria contradizer sistemas inteiros rigorosamente organizados e colocar em cheque as suas verdades ao confrontá-las com o Evangelho do SENHOR, sabendo que, à exemplo de João Batista, suas cabeças poderiam parar numa bandeja e, pela impiedade dos reis daquele tempo, seus corpos servirem de tochas humanas para iluminar as ruas?
"Se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode negar-Se a Si mesmo." (2Timóteo 2.13)
O diabo não calculou que mesmo com tantas imperfeições e medos em nós, o SENHOR não desistiria dos Seus planos. Ao contrário, Ele compreenderia as dificuldades que Sua Igreja passaria a partir de então, recordaria das limitações e dos pecados no homem e, mesmo que este se acovardasse, o SENHOR prosseguiria, tanto garantindo a expansão do Seu Reino, quanto trabalhando paciente e insistentemente pelo fortalecimento do Seu povo.
Pois Deus jamais abandonou o Seu povo, mesmo quando no Egito ou no cativeiro babilônico – narrativas bíblicas das consequências dos pecados não confessados, do amor de Israel por outros deuses, da desobediência como um todo, e não da covardia ou da ausência de Deus. Nele não há nenhuma treva! (1João 1.5)
Saber dessas coisas é um convite para repensarmos motivos que nos levam frequentemente a querer abandonar o SENHOR.
Uma frase de Policarpo de Esmirna (70 – 156 d.C.) agrega ênfase a esse convite. Por causa da perseguição romana aos cristãos, diante de seus algozes e prestes a ser colocado vivo numa fogueira, o bispo de 86 anos foi levado para o governador, que pretendia convencê-lo de negar a Cristo. Policarpo, porém, proferiu estas palavras: "Há oitenta e seis anos sirvo a Cristo e nenhum mal tenho recebido Dele. Como poderei negar Aquele a quem prestei culto e rejeitar o meu Salvador?"(*)
Pular fora do barco, abandonar a cruz, deixar Jesus, é a coisa mais tola que alguém que tem a promessa da vida eterna pode fazer. Ao pularmos do barco, certamente que a tempestade irá nos sucumbir. Ao deixarmos a cruz, não teremos mais nada que nos sirva como escada para chegarmos ao Céu. Ao abandonarmos Jesus, estamos valorizando qualquer coisa mais do que aquilo que realmente tem valor eterno e incalculável: o infinito amor de Deus, o que nos foi dado de graça e sem jamais merecermos.
Que as próximas coisas a serem abandonadas por nós sejam nosso orgulho, nossos velhos hábitos, nossa incredulidade, nossa impaciência.. .
Definitivamente, o SENHOR Jesus não merece nada disso.
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